Mergulhando na mente dos criminosos de colarinho branco: uma perspectiva freudiana

Baseando-se nas teorias psicanalíticas, esta reflexão sugere que muitos criminosos de colarinho branco exibem traços consistentes com o que Freud chamou de “perversão”.

Os crimes de colarinho branco sempre provocam reflexões sobre as motivações ocultas por trás dessas transgressões cometidas por pessoas de prestígio e poder. Apesar de diversas áreas tentarem entender e justificar esse tipo de comportamento, a complexidade intrínseca dos crimes de colarinho branco desafia o entendimento tradicional.

Atualmente, percebemos uma crescente necessidade de aprofundar a investigação do lado obscuro do comportamento humano — aquele que se origina não de privações sociais ou econômicas, mas das entranhas do poder. Explorando essa questão sob uma ótica freudiana, podemos nos desviar das perspectivas tradicionais que atribuem esses atos a meros fatores sociais e reconhecer a importância do inconsciente na psique do criminoso.

Através das lentes das teorias de Sigmund Freud, podemos identificar em muitos criminosos de colarinho branco características que ele descreveu como “perversas”. No entanto, é vital compreender esse termo em seu contexto psicanalítico, aponta para uma construção de personalidade e que não se trata simplesmente de patologia, mas de uma predisposição para transgredir normas e leis, tanto internas quanto externas.

Baseando-se nas teorias psicanalíticas, esta reflexão sugere que muitos criminosos de colarinho branco exibem traços consistentes com o que Freud chamou de “perversão”. Mas é importante ressaltar que esse termo não deve ser entendido em seu sentido coloquial, mas pelo viés psicanalítico, que indica uma estrutura subjetiva, ou de forma mais simples, um jeito de ser, de se expressar, uma personalidade que não indica patologia simplesmente, mas que aponta a possibilidade de desvio de leis internas e externas.

A estrutura em psicanálise é uma construção que acontece desde a infância, a partir das experiências vividas, das relações e da forma como cada um lida com imposições e conflitos, durante os estágios conhecidos em psicanálise como fases do desenvolvimento psicossexual. Para pensar no comportamento delitivo, conceitos psicanalíticos como id, ego e superego, pulsão e inconsciente são utilizados. Neste contexto, conceitos como id, ego e superego se tornam fundamentais para entender a dinâmica interna que leva ao comportamento criminoso. O id busca satisfação irracional; o superego aplica as normas internalizadas, e o ego tenta equilibrar essas forças, na relação com o ambiente vivido. Quando esse equilíbrio desestabiliza, pode permitir a expressão de comportamentos egoístas e transgressivos.

Nesse jogo entre as instâncias formadoras do sujeito, é a possibilidade de lidar com as leis, os valores, os símbolos, as relações parentais que irão ditar sobre a formação da personalidade do criminoso de colarinho branco. Uma explicação possível para este tipo de crime pode estar no fato do sujeito ter marcas que o façam acreditar que ele ‘pode tudo’. O caráter manipulador, sedutor e explorador aparece desde a infância nos jogos, nas articulações com os colegas, na tentativa de se sobressair a qualquer custo, e que se repetem ao longa da vida, inclusive fazendo o sujeito criar situações para que sua satisfação aconteça.

O panorama de um criminoso de colarinho branco é frequentemente associado a uma “personalidade narcisista”, que busca afirmação, poder e uma sensação inflada de importância, que em certos ambientes, é propício para infrações. Nessas situações, a questão não se resume apenas a ganhos materiais, mas envolve a posição e o poder que tais indivíduos tentam consolidar.

Além disso, a estrutura perversa, quando descontrolada e voltada a causar dano, é muitas vezes associada ao que se entende popularmente por psicopatia. Embora a psicopatia seja vista por diversas disciplinas como um transtorno caracterizado pela ausência de remorso e comportamento manipulador, sua presença entre criminosos de colarinho branco não pode ser etiquetada imediatamente. A psicanálise tenta diferenciar o perverso do psicopata, pela intenção deste em causar sofrimento, dor, humilhação, não mais, somente, com o objetivo de poder e status.

Assim, integrar fatores sociológicos e psicológicos é crucial para desenvolver reflexões e discussões a fim de buscar estratégias eficazes de prevenção e intervenção contra esse tipo de crime. Ao aliar insights psicanalíticos a teorias sociológicas, podemos alcançar uma compreensão mais completa das nuances e complexidades dos criminosos e dos crimes de colarinho branco. Este passo é essencial não somente para identificar modus operandi, mas também para elaborar medidas que efetivamente prejudiquem essas práticas.

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Elisandra Souza
Author: Elisandra Souza

Elizandra Souza, psicanalista e professora em cursos de formação em Psicanálise há mais de 20 anos. Mestre em Educação pela Universidade São Francisco. Especialização em Direito Penal pela FAMEESP. Especialização em Psicanálise e Linguagem, pela PUC- SP. E atualmente está finalizando seu Doutorado pela UCES, de Buenos Aires, com a tese e pesquisa sobre Políticos e Crimes do Colarinho Branco, a partir da Psicanálise. Tem participações como palestrante em Congresso, Encontros, Workshops e outros. Realiza palestras em escolas e outras instituições

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